No Rio Grande do Norte, a desigualdade no mercado de trabalho para pessoas com deficiência é um desafio quase insolúvel. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que apenas 5,4% das pessoas com deficiência no Estado estão empregadas, totalizando 85 mil pessoas.
A situação é ainda mais crítica para pessoas com deficiência que possuem Ensino Superior. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, apenas 51,2% daqueles com formação superior estão inseridos no mercado de trabalho, uma porcentagem significativamente menor em comparação com pessoas sem deficiência, cujo percentual de emprego chega a 80,8% para o mesmo nível de escolaridade.
A história de Luís Gomes, auxiliar administrativo, exemplifica os desafios e superações enfrentados por pessoas com deficiência. Em 2013, Luís sofreu um acidente de trabalho que resultou em sua atual condição. Ele quebrou as duas pernas em um acidente de carro. Durante o tratamento, ele perdeu a cartilagem no fêmur esquerdo devido a uma infecção hospitalar, o que causa dores crônicas. Seu joelho esquerdo só flexiona 40 graus, dificultando a locomoção. A perna esquerda é 1 cm e 67 mm menor que a direita, causando curvatura na coluna.
Em relação ao mercado de trabalho, Luís conta que nunca passou por nenhuma situação discriminatória ou pejorativa nos processos seletivos. Além disso, ele explica que não precisou de adaptação específica para sua deficiência, mas alguns colegas, por desconhecimento, pedem atividades que ele não pode realizar. “Enfrento desafios todos os dias, pois tenho muita força de vontade para fazer certas atividades, mas infelizmente sou impedido pelo fato de não poder pegar peso. No transporte coletivo, há um preconceito. Minha deficiência só é visível se me virem andando mancando; as pessoas me veem e não perguntam se sou PCD, já pedem para sentar, quase me expulsando do banco”, declarou.
Sobre as políticas públicas de inclusão de pessoas com deficiência nas empresas, Luís diz que percebe um interesse das empresas em incluir PCDs. “Minha única crítica é que quase não existem pessoas com deficiência em cargos de gerência. Eu nunca conheci um gerente que fosse deficiente”, completou.
A gestora acadêmica da Estácio e especialista em RH, Gabriella Saldanha, afirma que pessoas com deficiência enfrentam desafios especialmente no acesso a empregos qualificados. “Apesar de termos no Brasil a Lei 8.213 de 1991, que obriga empresas a partir de 100 colaboradores a terem no seu quadro de 2% a 5% de PCDs, como também a crescente pressão social por práticas inclusivas, a inserção desta parcela da população no mercado de trabalho ainda é desafiadora”, ponderou.
A especialista comenta que algumas das barreiras encontradas são: acessibilidade física (ambientes inapropriados); tecnologia insuficiente (ausência de tecnologia ou ferramentas adaptativas adequadas para o trabalho); falta do cumprimento da lei de cotas, devido à baixa fiscalização; falta de um programa de integração e de uma cultura inclusiva.
Ainda segundo ela, diversas empresas ainda não desenvolveram a cultura da inclusão, ou seja, contratar um PCD realmente e incluí-lo no mercado de trabalho, para que o indivíduo se sinta útil e pertencente à sociedade, e não apenas para o cumprimento da lei de cotas. “Vislumbra-se muito na prática de mercado que a equipe que receberá o PCD nem sempre está preparada para recebê-lo e conviver com a limitação que ele tem; atitudes preconceituosas (muitas vezes, empregadores e colegas têm percepções equivocadas sobre a capacidade de pessoas com deficiência, o que pode levar à discriminação ou à exclusão, conhecida como capacitismo. Isso inclui a subestimação do potencial e a crença de que pessoas com deficiência são menos produtivas)”, comentou.
Gabriella reforça que, para aumentar a participação dessa parcela da população no mercado de trabalho, é necessário investir em programas de conscientização interna, tanto para gestores quanto para a equipe, promovendo a quebra de estigmas e o entendimento de que a diversidade fortalece a empresa, tornando mais fácil a inserção do PCD no mercado.
“É importante comunicar de forma clara que a empresa está aberta a receber pessoas com deficiência e garantir que os processos sejam acessíveis; e criar políticas de desenvolvimento de carreira que servirão como caminhos de crescimento para pessoas com deficiência, assim como fazem com outros funcionários, permitindo que esses profissionais alcancem cargos de liderança”, ressaltou.
A gestora completa dizendo que a criação de um ambiente de trabalho realmente inclusivo envolve mudanças estruturais, culturais e comportamentais. ”E aqui está o X da questão: precisamos criar um ambiente inclusivo, e não segregador. Precisamos contratar pessoas com deficiência por suas competências e para que elas se sintam úteis, e não apenas para cumprir a lei de cotas, deixando-as desconfortáveis no ambiente de trabalho”, finalizou Gabriella Saldanha.
FONTE: Novo Notícias
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