Os casos de sífilis adquirida (quando a transmissão ocorre de uma pessoa para outra por meio de relação sexual), apresentaram crescimento de 14,9% no Rio Grande do Norte em 2023 se comparado com o ano anterior. De acordo com dados do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde, em 2022 foram registrados 2.576 casos de sífilis adquirida no Estado, enquanto que, no ano passado, esse número subiu para 2.962 casos. Já os registros de sífilis em gestantes e sífilis congênita (transmitida da mãe para o filho durante a gestação), tiveram redução de 14% e 1,8%, respectivamente. A campanha Outubro Verde, neste mês, reforça o combate à doença.
O uso de preservativos durante as relações sexuais e a realização de exames para detectar a doença são fundamentais para evitar a transmissão da infecção. A infectologista Vanessa Melo, que atua no Hospital Universitário Ana Bezerra (Huab) e na Maternidade Escola Januário Cicco (Mejc) – as duas unidades integram a rede Ebserh, explica que a sífilis é uma doença provocada por uma bactéria, a Treponema pallidum, e se apresenta em três estágios. “Após duas ou três semanas do contato com a bactéria, o paciente pode ou não manifestar sintomas de sífilis primária – uma ferida, normalmente indolor, de bordas elevadas, com um prurido e coceira leves”, explica a médica.
“A ferida pode se manifestar na área genital, no ânus ou na boca, a depender do tipo de relação sexual praticada pelo paciente. Nas mulheres, ela pode ser visível ou não, porque pode ocorrer no fundo da vagina. É uma ferida que vai desaparecer após poucas semanas”, complementa. Vanessa Melo chama a atenção para o fato de que a ferida costuma ser facilmente confundida com outras causas, o que geralmente impede a ida dos pacientes ao médico, os quais optam por tratar a lesão com pomadas. Segundo Vanessa Melo, uma em quatro pessoas, após a fase inicial, vai passar pelo estágio secundário.
“Neste estágio, o paciente poderá ter manchas no corpo, principalmente no tronco, que se assemelham muito a uma alergia. Essas manchas atingem as palmas das mãos e as plantas dos pés. Elas vêm, geralmente, com outros sintomas, como febre, dor de cabeça e dor de garganta. Algumas manchas e lesões, que a gente chama de placas, têm relevo acinzentadas ou esbranquiçadas na boca e na região íntima. Outro sintoma bastante comum é o aumento de gânglios sobre os linfonodos, conhecidos como ínguas”, descreve a infectologista.
Novamente, alerta a médica, os sintomas podem ser confundidos com outras causas e também desaparecem em pouco tempo. Já o terceiro estágio se manifesta anos depois. “Se a fase secundária não for tratada, décadas depois podem surgir problemas em órgãos como o coração, além da destruição de ossos e tecidos”, esclarece Vanessa Melo, que que atua também no Hospital Giselda Trigueiro, em Natal.
“Já a partir do segundo estágio pode ocorrer o que se chama de neurossífilis, quando a infecção atinge o sistema nervoso central e o paciente manifesta episódios de convulsão, dificuldade da marcha e alterações na visão”, completa. Além disso, o paciente pode não apresentar sintomas – a chamada sífilis latente. Ainda assim, a transmissão ocorrerá durante relações sexuais desprotegidas.
“Por isso, a realização de exames é tão importante. Os testes rápidos, por exemplo, são realizados em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Em menos de 10 minutos, o resultado está pronto e, se a doença for identificada, o paciente já começa o tratamento na própria UBS”, diz a infectologista. O tratamento é feito com benzetacil ou penicilina e a duração depende do estágio da doença.
Sífilis congênita
Os casos de sífilis congênita no RN diminuíram entre 2022, com 527 registros, e 2023, com 517. O número de gestantes infectadas também reduziu – de 1.164 em 2022 para 1.000 no ano passado. Foram três óbitos por sífilis congênita em cada um dos últimos dois anos. A ginecologista Maria da Guia de Medeiros Garcia, da Mejc, afirma que a transmissão no caso da sífilis congênita, que ocorre da mãe infectada para o filho durante a gestação, pode ser evitada durante as rotinas de pré-natal da mulher grávida, caso a doença não tenha sido identificada e tratada antes.
“Se o tratamento completo, chamado padrão ouro – que consiste em três doses de benzatina (benzetacil) administradas uma vez a cada sete dias e uso de penicilina – for feito em até 24 semanas de gestação, a transmissão é facilmente evitada. Já o bebê infectado precisará tomar penicilina injetável durante 10 dias”, explica a médica. Ela alerta que o tratamento, para garantir a cura, não pode ser interrompido. Segundo a ginecologista, o bebê contaminado pode ser assintomático ou apresentar algum tipo de infecção.
Os efeitos durante a gravidez, alerta Garcia, podem ser graves, como abortamento e óbito fetal. A doença pode provocar, ainda, má formação nos bebês e parto prematuro, além de gerar efeitos na criança infectada a partir dos três meses como rinite, pele avermelhada, febre, crescimento do fígado e icterícia. “Por isso, um pré-natal bem feito é fundamental. É preciso tratar, inclusive, o parceiro da gestante que contraiu a doença. E a prevenção é importante sempre, porque um mesmo indivíduo por se reinfectar repetidas vezes”, orienta a ginecologista.
FONTE: Portal Tribuna do Norte